Inverno da Alma
Indicado ao Oscar,
"Inverno da Alma"
estreia no Brasil
Drama independente cria mistério em
montanhas do interior norte-americano
Drama - 14 Anos - EUA
Aos 17 anos de idade, Ree Dolly embarca em uma missão para encontrar seu pai, depois que ele usa a casa de sua família como forma de garantir sua liberdade condicional, e desaparece sem deixar vestígios. Ree desafia as mentiras e ameaças oferecidas por seus parentes, e dessa forma começa a juntar a verdade sobre seu pai.
Foto: Divulgação
Jennifer Lawrence, a força-motriz de "Inverno da Alma", na disputa pelo Oscar
Depois de triunfar em festivais e premiações independentes – foi campeão do prestigiado Gotham Awards e escolhido pelo júri de Sundance –, "Inverno da Alma" conseguiu emplacar no Oscar. Com estreia nesta sexta-feira (28) no Brasil, o longa-metragem obteve quatro indicações – melhor filme, atriz (Jennifer Lawrence), ator coadjuvante (John Hawkes) e roteiro adaptado – e receberá todos os holofotes e glamour de Hollywood, mesmo tendo pouco em comum com a opulência da indústria, a começar por seu orçamento: U$ 2 milhões, minúsculo até para colegas de mesmo porte indicados no ano passado, como "Preciosa" (US$ 10 milhões) e "Guerra ao Terror" (US$ 11 milhões).
Baseada no livro de mesmo nome, inédito no país, a história se passa nas geladas montanhas Ozarks, no Missouri, sul dos Estados Unidos. A adolescente Ree, aos 17 anos, tem responsabilidades de chefe de família. Com uma irmã e irmão pequenos, a mãe com problemas mentais, ela faz o que pode para colocar comida na mesa e resolver problemas deixados pelo pai foragido. Um deles, porém, é grande demais: conhecido por comandar laboratórios de metanfetamina de fundo de quintal, o pai colocou a casa como garantia de fiança e se faltar a uma audiência no tribunal, a propriedade vai a juízo. Em busca de uma solução, Ree bate de frente com o passado da família e a comunidade local, dando origem a um universo todo particular.
Boa parte do mérito de "Inverno da Alma" e da falação em torno do filme se deve à atuação de Jennifer Lawrence. Ainda adolescente na época das filmagens, a atriz incorpora a angústia e determinação da personagem como veterana, encara desafios – corta madeira, estripa esquilos – e ajuda a criar o clima noir caipira que circunda a trama. Por baixo de seu gorro de lã, Ree, de certa forma, assume o papel de uma detetive, subindo e descendo colinas atrás de informações sobre o paradeiro do pai. Ninguém fala ou sabe de nada. Há mortes, duelos, mistério. O silêncio impera e ameaças sobram nessa terra sem lei, onde a polícia tem medo de entrar e a autoridade se resume ao chefe da máfia local, com jeito de patriarca.
Isso porque a comunidade vive de regras e ética próprias. Todos parecem ter certo grau de parentesco e seguem um código sexista – só mulheres podem bater em mulheres, por exemplo. "Você não tem nenhum homem para resolver esse assunto?", Ree escuta quando tenta conversar com o líder do bando, que detém uma espécie de aura messiânica. Ela desafia barreiras e paga o preço da audácia.
Além da postura feminista, "Inverno da Alma" ainda flagra o precário quadro social desse estrato da população. Não raro, os confins do interior norte-americano se tornam terreno fértil para a produção de drogas e seus habitantes, sem qualquer perspectiva, vivem do vício e criminalidade. Por pagar um bônus no momento do alistamento, o Exército surge como alento, mas Ree, menor de idade, não tem essa opção.
Lawrence mereceu sua indicação com louvor. John Hawkes, no papel de um tio violento, imprevisível, surpreendeu e foi reconhecido pelos colegas. A injustiça, porém, fica por conta da ausência da diretora Debra Granik entre os concorrentes da categoria. É dela o mérito de converter o frio em quase personagem, de não fazer o filme refém de gêneros e adotar um tom praticamente naturalista, contido, ao narrar a história. Sem esse olhar estético e dramático aputarado, "Inverno da Alma" não teria o mesmo poder de fogo.
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